VIAGEM A PÉ PELAS NOVE ILHAS DOS AÇORES REALIZADA EM 2012 PELO JORNALISTA NUNO FERREIRA (REVISTA EPICUR E REVISTA ONLINE CAFÉ PORTUGAL, autor do livro "PORTUGAL A PÉ", EDIÇÃO VERTIMAG) APOIO VERTIMAG, Pousadas de Juventude dos Açores e SATA Contacto: nunocountry@gmail.com
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
NA OFICINA DE RAIMUNDO LEONARDES, NO TOPO
No Topo, não tive apenas o prazer de falar com os baleeeiros e de seguir uma viagem do bote São José graças ao convite da Associação local Cachalote. Visitei também a oficina do jovem construtor de violas Raimundo Leonardes.
O sonho de Raimundo é um dia ter a sua oficina de violas e que seja passível de visitação. Por enquanto, trabalha com o pai na ampla oficina de carpintaria à entrada da pequena freguesia e ao final do dia dedica-se às violas, seja a viola da Terceira, seja a viola da Terra ( cinco parcelas, 12 cordas, escala rasa e dois corações).
Raimundo aprendeu o que sabe com o pai e mais tarde aperfeiçoando sozinho. “Desde miúdo que vinha para a oficina fazer pequenas coisas, caixinhas, ajudar…depois vim da tropa, criou-se este espaço novo e começámos a trabalhar bastante na carpintaria para a construção civil”.
O pai de Raimundo, no entanto, sempre se interessou pelas violas. “Ele fez um instrumento a partir de uma construída por um amigo, Manuel Goulart, emigrante nos Estados Unidos. Ainda usou essa forma mais umas três ou quatro vezes mas era muito grande”.
Mais tarde, começaram as pesquisas. “Começámos a ver as violas construídas pelo António Inácio Brasil, que construíu muitas aqui no Topo. Fomos buscar alguns exemplares e começámos por aí. Foi esse o ponto de partida”.
Nos anos 90, quer a construção de violas quer a realização de bailes regionais onde estas fossem usadas, estagnou. “Em 1995, o meu pai começou a fazer algumas para gente das outras ilhas ou alguém de São Jorge”. Raimundo passou a dedicar-se mais aos instrumentos em 2005: “Foi a partir desse ano que me dediquei mais, que criei outro modo de trabalho e que comecei a tentar aperfeiçoar os métodos. Foi muito importante, por exemplo, conhecer o professor Lázaro Silva, da Terceira. Pediu-me uma viola que fosse de encontro às suas exigências, levou-me a pesquisar mais.”
Raimundo, que até determinado momento só construía a chamada viola da Terra, começou a construír para a Ilha Terceira violas terceirenses, com as suas seis parcelas e 15 cordas. “Até hoje, sempre que recebo encomendas da Terceira, são pedidos de violas tradicionais de lá”.
Raimundo tem construído para o mercado regional, seja para São Miguel e São Jorge, seja para o mercado da emigração. “Também me pedem e faço reparações mas ultimamente não tenho tido tempo. Tenho encomendas para fazer”.
Na ilha, tocadores como António Enes ou Luís Melro elogiam o trabalho do jovem Raimundo. Luís, que toca e manda nos bailes de roda, usa mesmo uma viola construída na oficina do Topo.
Raimundo com o tocador micaelense Rafael Carvalho (foto Rafael Carvalho)
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