sábado, 28 de abril de 2012

PESCA DO ATUM COM O "PONTA DOS MOSTEIROS"

São três da manhã quando chego ao porto da Caloura para acompanhar o "Ponta dos Mosteiros" em mais um dia de faina. Outro barco, já iluminado, também espera os seus pescadores para partir para "os setenta", a zona a sueste de São Miguel e na direcção de Santa Maria para onde barcos da Caloura, Rabo de Peixe, Vila Franca do Campo ou Ribeira Quente se deslocam nesta época do ano. Os pescadores chegam acasacados e de gorros cobrindo as cabeças pelas 3h30 da manhã. Pouco haverá a fazer durante as três primeiras horas de viagem por isso a maioria aproveita para dormitar à popa, estendidos debaixo de uma lona, cobertos com lonas. Ao fundo, sob um céu repleto de estrelas, as luzes de Vila Franca do Campo. O mar está particularmente calmo, o barco balança pouco e o som rouco do motor serve de embalo para o sono dos homens. Alguns, os mais velhos, descansam sentados e são os primeiros a prescrutar o horizonte mal chegamos à zona de pesca ao início da manhã. Pelas sete da manhã, o sol desponta para as bandas de Santa Maria em explosão de amarelos e cor de laranja entre recifes de nuvens que se expandem para a esquerda e direita do horizonte. À nossa esquerda, o dorso escarpado e escuro do Nordeste da Ilha de São Miguel. À direita, a sombra de Santa Maria. IMG_5077 Os homens enrolam a lona e preparam-se para uma ou duas horas monótonas e ansiosas. Ao todo, aparecendo não se sabe de onde, conto 15, 20 barcos. Alguns passam tão perto que os pescadores saúdam-se. Falam de barco para barco, todos esperando ansiosamente o peixe. Ali, o "Letícia Moniz", acolá o "Monte Santo", mais adiante o "Ana Beatriz". P1040425 A parte mais tensa da viagem é a das primeiras horas enquanto o atum não aparece e os homens seguem a direcção das cagarras. P1040460 P1040467 Quando, de repente, e ao fim de uma ou duas horas, os atuns aparecem, o ambiente taciturno e ansioso no "Ponta dos Mosteiros" transforma-se em azáfama febril. Os homens querem pescar e empreendem as primeiras capturas num rol de gritos- "Olha o bichinho!"- e corridas à proa e à popa e pedidos insistentes de "cavalinha", "cavalinha", o isco que João Amaral está encarregue de entregar rápidamente. P1040432 A captura do atum obriga os homens a um esforço rápido e duro, que quando o peso é muito, obriga quatro pescadores a juntarem-se para puxar o peixe para dentro do barco. P1040543 P1040542 P1040546 P1040549 Já dentro do barco, o atum precisa de ser colocado no porão. Mais trabalho braçal. P1040396 P1040584 P1040394 P1040377 A faina é feita de arranques e arrecuas. De um momento para o outro, um rol de barcos parte em corrida para uma área mais adiante onde aparentemente apareceu mais peixe. No "Ponta dos Mosteiros", sempre à popa, controlando as operações, o mestre Weber Pacheco, 35 anos, é que diz para onde se vai e quando se vai. P1040477 Ao fim de horas de labuta nos "setenta", o mestre Weber decide tentar o mar junto ao Nordeste de São Miguel. Os homens sabem que se segue mais um período de viagem. O Sol a pique obriga-os a despir as roupas. Aproveitam para comer sandes ou chicharros que trouxeram de casa e mais tarde para dormitar. O mar do Nordeste trará mais peixe e mais trabalho ao fim da tarde. P1040492 P1040565 P1040516 P1040509 P1040530 P1040450 P1040592 Costa de São Miguel perto de Água Retorta e Faial da Terra P1040498 P1040575 Agradecimento a todos com quem partilhei o "Ponta dos Mosteiros" desde as 3h30 às 20h00: O mestre Weber Pacheco, 35 anos, Paulo Roberto, 45, Luís Remouga, 40, Ismael Pacheco, 24, Marco António, 34, Ismael Pacheco, 24, Bruno Machado, 29, André Pacheco, 27, Valdemar Fixinha, 27, José Pacheco, 51, João Amaral, 22, João Pacheco, 40, António Medeiros, 46 e João Pacheco, 30 anos.

CALOURA

P1030358 O Porto da Caloura está posta em sossego quando por lá passo depois de uma paragem na Praça da República de Água D'Pau e nos seus animados cafés. Aquela hora, os pescadores da Caloura estão para o mar. O Sol brinca ao esconde esconde com as nuvens, iluminando por breves momentos as águas esverdeadas. P1030321 Um homem pesca junto à piscina ainda vazia nesta altura do ano. Outro ciranda desocupado pelo pontão. "Ao fim da tarde, ao fim da tarde é que voltam os barcos e há aqui movimento". P1030338

quarta-feira, 25 de abril de 2012

DE VILA FRANCA DO CAMPO A ÁGUA DE PAU

P1030296 um céu cinzento e tristonho acompanha-me até Água de Pau. O trânsito já passa pouco pela estrada que bordeja osolitário Bahia Palace. Ali perto, dois turistas acabados de saír do hotel esperam uma camioneta para Ponta Delgada. P1030289 À melancolia destas paragens sucederá mais à frente, subida uma rampa junto a um, mais um miradouro, o bulício da Praça da República em Água de Pau e dos seus cafés e tascas. P1030281 De repente, de um deles, um homem visivelmente alcoolizado vem na minha direcção: "És tu! És tu!" Pergunto o que se passa. Conta, emocionado, que eu sou extremamente parecido com um velho amigo que já morreu. O rapaz dentro do balcão sorri. Aquilo é o dia a dia da taberna. O homem pede desculpa de me ter interpelado e pede mais um copo. Os bares e tascas ali, permitem aos desocupados da zona rodar todo o dia de um para o outro.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

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Homenagem ao cão de fila de São Miguel junto à Açores Arena, em Vila Franca do Campo

IRRÓ, A FESTA DOS PESCADORES DE VILA FRANCA DO CAMPO

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Entre 13 e 16 de Abril, os pescadores despem as roupas da faina e vestem-se de gala para celebrar o seu padroeiro, São Pedro Gonçalves. A procissão, a 15 de Abril, atravessa as ruas atapetadas de flores ao som da banda filarmónica e do som ríspido dos foguetes a riscar o céu cinzento.

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Sem banda, neste caso a histórica Banda Filarmónica Marcial União Progressista, não há procissão que se preze. A banda nasceu em 1907 para que as Festas do espírito Santo da Freguesia de São Pedro pudesse ter banda, uma vez que outra banda, a Banda Lealdade, já estava comprometida. A Marcial União Progressista, reza a sua página, foi formada com instrumentos de uma banda da vizinha Ponta Garça que tinha terminado.

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"Ao experimentar os seus primeiros passos, quando ainda menina e moça teve a ampará-la a protecção do Conde Botelho e é ainda hoje um lídimo representante dessa nobre ilustre família, o Visconde Botelho, um dos seus grande protectores.
A título de curiosidade os elementos que compõem esta banda são conhecidos
como "Zitas". A banda é formada na sua maioria por agricultores e operários, gente humilde (...)"
Extraído do site da Banda Marcial União Progressista

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O "TRÊS PASTORINHOS" CHEGA AO PORTO

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A tripulação do "Três Pastorinhos" acabou de chegar ao porto de Vila Franca do Campo. Aquela hora, há tripulações que descansam, há barcos que se preparam para saír. Um homem, a tensão no rosto, grita ao telemóvel junto a uma carrinha de transporte: "Eu tinha-te avisado, ti não me digas agora que não sabias". Ao lado dele, esperam grossos e lustrosos atuns acabados de pescar. Um grupo de mirones ouve a conversa. Por ali, nas muralhas e nos cafés onde os pescadores se juntam, há muitos homens, os mais velhos de samarras grossas e aos quadrados.

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O atum é retirado do barco pelos mesmos braços que o capturaram em alto mar e o mestre ainda pega num balde e os lava antes de seguirem caminho em direcção às instalações da lota e mais tarde, de Ponta Delgada.
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PORTO DE VILA FRANCA DO CAMPO

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Porto de Vila Franca do Campo

PRAIA DA VINHA DA AREIA, VILA FRANCA DO CAMPO

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Um solitário brinca com o cão no arel vazio daquela que no Verão é uma praia bastante concorrida, com um parque aquático e a marina do Cais do Tagarete por perto.
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Ponta Garça

FADO EM PONTA GARÇA

Ponta Garça é uma freguesia rural que tem a particularidade de ser a mais comprida da ilha. As casas acumulam-se encostadas umas às outras entre curvas e lombas, numa serpente que vai da Praia D'Amora até à Ribeira das Taínhas, já perto de Vila Franca do Campo.
Quando soube que dias mais tarde iria ali realizar-se uma sessão de fados jurei regressar. E voltei (desta vez no conforto de uma viatura e num dia sem chuva).
18-Carina Vieira, fadista amadora de Vila Franca do Campo, Noite de Fados em Ponta Garça
Carina Vieira, 19 anos

Os fadistas eram todos amadores e de Vila Franca do Campo. A excepção era o veterano Alfredo Gago da Câmara, organizador convidado pela câmara de Vila Franca do Campo a criar encontros de fado com fadistas locais em freguesias do concelho. Nessa noite, era a vez de Ponta Garça. A casa demorou a encher, não fossem muitos dos homens de Ponta Garça gente que trabalha na pecuária e chega tarde a casa. Comentei com alguém que o evento tinha sido bem divulgado na internet. "Oh mas eles só vão à internet para ver os subsídios".
Percebi também algumas outras peculiaridades da sessão quando o segundo fadista elogiou vivamente o mandato do autarca actual e desejou que ficasse por muito tempo, depois de vários cumprimentos às excelências que se sentavam na primeira fila representando o governo e a autarquia.
Alfredo Gago da Câmara explicou-me que embora não existam espaços para fadistas como Márcia Guerreiro, que já actuou num festival nacional de fado, para Graça Prata ou para Carina Vieira, qualidade vocal não lhes falta. Sempre que pode, Alfredo Gago da Câmara abre o espaço onde actua em Ponta Delgada aos amadores. "Está aqui um trabalho grande de treino e ensaio, o fado é uma aprendizagem permanente, um estado de alma que vai crescendo dentro de nós ao longo dos anos".

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O público não regateou aplausos nem aos músicos profissionais que acompanham Alfredo Gago da Câmara nem aos amadores, reprresentados nas primeiras filas pelas famílias e amigos.
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Fadistas, todos de Vila Franca do Campo: Carina Vieira, Graça Prata, Sandra Ventura, Márcia Guerreiro, Alfredo Gago da Câmara, Henrique Pires, Jorge Gago da Câmara, Vitor Prata.
Guitarristas: Alfredo Gago da Câmara, José Victor Prata, Manuel Paiva.
Violistas: Carlos Estrela e Jorge Gago da Câmara
Contrabaixo: André Estrela