quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CHEGADA À GRACIOSA MARCADA PELO MAU TEMPO

Os meus primeiros dias na Graciosa foram marcados pelo mau tempo e pelas consequências da passagem do temporal com um nome feminino e simpático, Nadine. Apesar de tudo, era maior o alerta e a preocupação de quem seguia as ocorrências pela televisão e me ligava do continente do que propriamente de quem aqui estava. A princípio, ainda no dia 19 de Setembro, muito vento a fazer esvoaçar as árvores altaneiras da praça central. Depois, muita chuva durante a noite de 19 para 20 e durante esse dia. Finalmente dia 21 iniciei a caminhada pela ilha, uma caminhada algo esvoaçante, ainda com uma ventania grande, o mar muito azul escuro, a espuma branca a esfiar-se nos rochedos negros. Enquanto caminhava, o som do mar e do vento eram permanentes. Como trazia o sopro do vento nas costas este impelia-me a seguir caminho e só verdadeiramente me incomodava quando, como na Ponta da Barca ou mais tarde nas arribas junto a Porto Afonso pretendia fotografar junto à costa. nadine mau tempo 2 mau tempo 1

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

GRACIOSA

Estou ansioso por começar a caminhar na Graciosa ( em princípio já no dia 19 de Setembro) e receptivo a todas as dicas e sugestões sobre cultura popular e belezas naturais da ilha. MapaGraciosa2

SÃO JORGE

P1050576 Um muito obrigado a todos os que me ajudaram e receberam em São Jorge e um agradecimento muito especial ao staff da Pousada da Juventude, na Calheta.

NA SERRA DO TOPO

Antigamente, era na Serra do Topo que os habitantes das fajãs como a da Caldeira vinham apanhar a carreira Topo-Velas-Topo. Hoje, é junto à estrada da Serra do Topo que a maioria dos turistas caminhantes parte à conquista do trilho mais famoso da Ilha de São Jorge. trilho 1 trilho 2

NA CASCATA

Nada melhor que o jorro da água límpida e cristalina de uma cascata quando estás impregnado em suor e calor e cansaço Cascata do trilho da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, São Jorge cascsta 2 cascata 3

ENTRE A CALDEIRA E A SERRA DO TOPO

A Caldeira acaba por desaparecer na vegetação do trilho que leva à Serra do Topo caldeira ao longe caldeira ao longe 2

sábado, 15 de setembro de 2012

"O MELHOR LUGAR DO MUNDO"

“ Isto aqui é um lugar santo”, explica António Baltazar, um dos poucos moradores a tempo inteiro da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, na Ilha de São Jorge. “Vivo com o silêncio, o ar puro, a natureza. Temos ameijoas na lagoa, lapas fresquinhas na maré vazia, polvo, sargos, congros, meros na costa aqui perto. Qual é o lugar do mundo melhor para viver que este?” Baltazar abre as mãos: “Eu não conheço”. Por cima da casa em pedra de Baltazar, as nuvens brincam às escondidas com o recortado verde da montanha que desce e acaba reflectindo nas águas da lagoa. Um pouco mais à frente, a ermida de Santo Cristo em branco e negro enfrenta o mar, que balança sobre os calhaus onde um casal de surfistas namora em paz sob o céu de penumbra. ant baltazar caldeira 10 mister Baltazar Agosto é um mês mais animado na Caldeira, classificada de reserva natural pelo governo regional e frequentada pelos surfistas devido à ondulação da zona. Vêem os “americanos” ( gente da ilha emigrada nos Estados Unidos e no Canadá) e um maior número de turistas para calcorrear o mais famoso trilho da ilha, entre a Serra do Topo, a Caldeira de Cima, a fajã da Caldeira de Santo Cristo e a fajã dos Cubres. A animação termina em Setembro depois das festas do Senhor Santo Cristo. A Fajã fica novamente entregue a Baltazar, mais meia dúzia de moradores e peregrinos que apareçam a pé em promessa ao padroeiro. “Fica sossegado mas é aqui que eu gosto de estar”, explica António, que nasceu na vizinha Fajã do Tijolo e vive ali desde criança. “O meu pai era pescador e agricultor. Pescava congro, abrótea, boca begra, moreia para secar e a gente comer durante o ano”. Além da pesca, semeavam as terras da fajã com milho, batata, inhame e criavam vacas, ovelhas e cabras. “Vivia aqui muita gente e tudo era cultivado. Tinhamos padre e correio às quartas e sextas. A camioneta que fazia a carreira Topo-Velas deixava uma saca de lona lá em cima que depois era aberta aqui em baixo”. Em 1960, conta Odília Teixeira no livro “Ao Encontro das Fajãs”, foi ali inaugurado um posto público de telefones e mais tarde uma rede eléctrica alimentada por um pequeno gerador. Foi também construído um cais no interior da lagoa para “facilitar a varagem dos barcos” mas o canal entre a lagoa e o mar acabou por entulhar. As comunicações ali nunca foram fáceis. “Agora há essas motas que andam entre aqui e os Cubres mas dantes não havia ligação aos Cubres. Tinhamos de subir e descer a pé a serra e apanhar a carreira de autocarros Topo-Velas”. caldeira 13 caldeira 7 caldeira 5 caldeira 12 A pobreza levou muitos dos que ali viviam a ir emigrando. António Baltazar emigrou pela primeira vez em 1970 para França e dois anos mais tarde para o norte do Canadá, mais precisamente para Pinepoint, no Estado de Northwest Territories, onde se juntou a um irmão. “Ele era camionista. Eu andei a limpar escritórios. Mas era muito frio e o próximo hospital ficava em Edmonton, a 800 milhas a sul. Quando a minha mulher ficou grávida, viemos embora”. Em 1980, acabado de chegar do Canadá, António e a família são surpreendidos na Fajã da Caldeira de Santo Cristo pelo sismo de 1980. “Tombou a rocha por aí abaixo, era árvores, era entulho e ficámos aqui isolados três dias. Os mais novos e os mais velhos saíram em botes para a fragata mas a gente ficou aqui. Tinhamos leite, pão, carne de porco da última matança e aguentámos aí até saírmos de helicóptero”. Os animais andavam soltos pela Fajã. “Havia gado enterrado na lama, os porcos e as galinhas andavam à solta”. Ao todo, na Fajã Redonda (hoje abandonada), fajã da Caldeira e Fajã dos Cubres António calcula que vivessem 300 pessoas. Se muitos já tinham emigrado, com o sismo emigrou muito mais gente. “O mal disto tudo foi o governo da altura ter criado um bairro para os desalojados na costa sul, na Ribeira Seca. Diziam que quem quisesse vir vinha à sua responsabilidade. Ora, despovoou-se a Caldeira e muitas fajãs ficaram abandonadas”. António é da opinião que era possível ter recuperado as casas. “Muitas precisavam só de uns retoques. Tinhamos aqui carpinteiros, mestres de construção, só precisávamos de cimento e ferro e gente para fazer. A Caldeira ficou sem gente”. Aos poucos, António começou a regressar à Caldeira. “Vinha a , cavalo pela serra. Comecei a vir de férias. Até que voltei definitivamente em 92. Estavam aqui quatro a cinco casais, mais ou menos como hoje. Eu e a minha mulher sempre gostámos disto. Ainda tenho gado, cabras, milho, batata. O milho que para aí está é ou meu ou do meu cunhado…” caldeira 11 caldeira 8 caldeira 9

UM LUGAR CHAMADO CALDEIRA DE SANTO CRISTO

A Fajã da Caldeira de Santo Cristo é um lugar fora deste mundo. Talvez por não ter ainda electricidade. Talvez por morar lá pouca gente. Talvez pela atmosfera criada pela montanha em redor, pelo dançar constante das nuvens, pela tranquilidade da lagoa e o rumor do mar ali em frente. Emanuel, o barmam do único restaurante e café, poeta amador e autor de desenho em carvão (em baixo um desenho que fez do filho) diz a brincar que a água da Caldeira "tem qualquer coisa". É possível. Quero muito voltar. emanuel caldeira resta caldeira caldeira 6 caldeira 3

DA FAJÃ DOS CUBRES À FAJÃ DA CALDEIRA DE SANTO CRISTO

Chega-se à Fajã da Caldeira de Santo Cristo a pé desde a Fajã dos Cubres ao fim de uns 40 minutos mas há muitos, sobretudo durante a época das férias que perfazem esse trecho em motos de duas e quatro rodas. Os poucos que ali habitam o ano inteiro aproveitam também as motas de quatro rodas para transportar ou receber através delas bens essenciais. A circulação é feita segundo determinados horários mas é contestada por quem defende o sossego, a paz e a tranquilidade únicas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Se a fajã ainda vive e bem sem água canalizada e sem electricidade, na paz dos Deuses, para quê o corropio de motas? As opiniões dividem-se. Há quem deseje o regresso ao passado em que se circulava a pé ( e de burro), há quem ache que mais tarde ou mais cedo a Fajã da Caldeira de Santo Cristo terá além das motas, electricidade e água canalizada. Eu deixava-a como está, paradisíaca. cubres 8 cubres-caldeira

NOITE DE FESTA NA FAJÃ DOS CUBRES

É uma noite morna de um fim de semana de Verão na Fajã dos Cubres. Junto à ermida, uma casa reúne dezenas de pessoas, muitos deles "americanos", emigrantes na América do Norte em férias na ilha. Juntaram-se para um churrasco bem regado e para o baile de roda que se lhe segue e que como é hábito na ilha começa tarde. Crianças correm e jogam à bola falando entre si alegremente em inglês. Num páteo traseiro à casa e com a colaborações de músicos da ilha, o baile começa com modas mais lentas até chegar à chamarrita e exigir dos participantes mais ritmo e atenção. A alegria é a mesma. P1080903 baile 11 baile 10

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ATÉ À FAJÃ DOS CUBRES

A estrada para a Fajã dos Cubres ainda exibe os efeitos das invernias e chuvadas e derrocadas do último Inverno. Os carros, muitos deles táxis e carrinhas que vão buscar turistas caminheiros que terminam nos Cubres o trilho mais famoso da ilha, o da Caldeira de Santo Cristo, procuram evitar o mais possível o precipício. Lá em baixo mora o mar que lambe sob os meus pés atrevidos os calhaus rolados num vaivém incessante. A fajã, cuja lagoa é mais pequena que a da Caldeira do Santo Cristo, surge como quase sempre nestas descidas, a meio do caminho. Lá estão a Ermida da Nossa Senhora de Lourdes, junto à qual assistirei mais tarde a uma festa de Verão muito concorrida por emigrantes em férias e os últimos campos cultivados, o último milho, as últimas vinhas. cubres 1 cubres 2 cubres 3 cubres 4

NA FAJÃ DO MERO COM SERAFIM BRASIL

Está um dia de Verão na Fajã do Mero, freguesia do Norte Pequeno. Uma família aproveita o dia de céu limpo para comer ao ar livre, com vista para o mar e para a sombra difusa da Ilha Terceira ao longe. Serafim Brasil abre a porta daquela que já foi a casa da sua avó e onde hoje ele e a mulher recebem os turistas que por ali passam. “Esta fajã é ligada ao Norte Pequeno por dois trilhos. Uma vez, passou por aqui um casal suíço que achou piada ao meu palheiro e às cangas dos bois”. A partir de então, Serafim Brasil e a esposa passaram a receber os turistas. “Já criei um livro de visitas e eles deixam as suas impressões da fajã e da sua passagem por aqui”. Alguns já enviaram para Serafim fotos que tiraram ali. “Recebo cartas deles, fotos, recordações”. Uma vez estava a almoçar quando passaram uns turistas espanhois. “Oferecemos sopa, café, ela até queria ajudar a lavar a louça”. norte pequeno Serafim Brasil, agricultor e defensor da Fajã do Mero, São Jorge s brasil 2 s brasil A Junta de Freguesia do Norte Pequeno, no afã de promover as fajãs da freguesia, já mandou fazer um diploma que Serafim entrega aos turistas que ali passam. “É uma forma de eles sentirem que foram bem recebidos aqui e que gostámos de os ter aqui”. Serafim, cuja avó vivia naquela precária casa de pedra da fajã do Mero, veio da freguesia do Topo para ali com 16 anos. “A minha avó viveu aqui até à crise sísmica de 1964. Esta fajã já teve muita gente e era usada também pela população para “invernar” o gado nos meses de Inverno. Ficavam aqui famílias inteiras. Só se ia lá acima aos domingos, à missa”. De Inverno, a Fajã do Mero não é tão convidativa. “Por vezes”, explica Serafim quando percorremos um dos trilhos que liga á freguesia e que foi aberto em grande parte por si, “despegam aí pedras que vão a rolar por aí abaixo. Estamos na cama e parece que é trovoada”. O sismo de 1980 acabou por afastar ainda mais gente. “Muitos emigraram, outros faleceram”. Serafim Brasil acabou por herdar a casa em pedra e fazer dela e do terreno adjacente o que chama de “penedo de socorro”: “Plantei aqui muita batata, inhame, vinha…Tenho casa lá em cima mas onde me sinto bem é aqui na fajã”.

DO NORTE GRANDE AO NORTE PEQUENO

Estrada, asfalto. O Pico da Esperança, hoje mais limpo que no dia anterior, erguendo-se sobre as pastagens e as casas. norte grande pico da esperança ribeira d areia km o

DA FAJÃ DO OUVIDOR A NORTE GRANDE

Há bastantes casas de férias na Fajã do Ouvidor. O ambiente junto ao porto é de férias. Famílias, casais a aproveitar a manhã de sol. Esta é provavelmente a mais infra-estruturada fajã em que passei. Apesar de a primeira estrada só ter sido rasgada em 1948, não se sente a pressão de isolamento de outras fajãs. A subida até ao Norte Grande permite ir vendo a Graciosa ao longe em diferentes parâmetros. A Fajã do Ouvidor vai definhando encurralada pelas falésias enquanto a estrada serpenteia até lá acima. Já me acostumei a este jogo de sobe e desce. Caminhar na Ilha de São Jorge em Agosto é como caminhar numa montanha russa encafuada numa estufa de nuvens e humidade. Quando chego ao Norte Grande, depois de passar pelo cavalo da fotografia, já emborquei uma dose considerável de água. faja do ouvidor faja do oividor 2 faja do ouvidor 3 faja do ouvidor graciosa faja do ouvidor mochila cavalo entre ouvidor e Norte

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

DO PICO DA ESPERANÇA À FAJÃ DO OUVIDOR

A névoa, de repente, dissipa-se. Ando mais um pouco, agora sempre a descer numa estrada em caracol pela serra até à freguesia de Norte Grande. Ao caminhar, assisto aos avanços e recuos do nevoeiro, já cercado de hortênsias. Até atingir um patamar onde posso olhar lá para cima e vislumbrar de quando em quando o perfil do Pico da Esperança entre os fios de névoa. Cá por baixo, é agora território do cedro do mato que se contorce um pouco por todo o lado à minha passagem. estrada 2 pico-norte pico-norte 4 pico norte 6 pico norte 5