quarta-feira, 4 de abril de 2012

ZULMIRO, O "BRASILEIRO" DA LOMBA DA FAZENDA

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Zulmiro Medeiros Resendes, 76 anos, emigrou para o Brasil aos 18 anos sem nunca ter saído da Lomba da Fazenda. Após uma vida muito vivida em São Paulo onde manteve um bar e lanchonete/ padaria, regressou para o sossego da freguesia de onde é natural: "Poxa, isso aqui mudou muito e para melhor".
Quando Zulmiro partiu, a Lomba da Fazenda era uma freguesia entregue à agricultura onde se andava de burro e se ía a pé vender ovos, por exemplo, a Ponta Delgada. "Os meus irmãozinhos eram como toupeiras, a gente não sabia nada, era o tempo de não saber ler, do carro de bois e do burrinho. Caramba, eu não fazia ideia do que é o mundo aí fora".
Zulmiro foi pela primeira vez a Ponta Delgada para apanhar o barco para o Funchal de onde apanhou então o navio North King para o Porto de Santos. "Eu nunca tinha estado em Ponta Delgada, gostava de tudo, daqueles passeios, tudo era novo para mim".
Só não achou muita piada quando descobriu que o North King de "rei dos mares" só tinha o nome: " Era um navio que tinha andado na Guerra Mundial e depois passou a acartar portugueses. Parecia barco de carga. Eu vi aquilo. Disse para comigo: "Não brinca não".
Ao fim de dez dias de mar e céu, Zulmiro desembarcou no porto de Santos. Tinha a família à espera. "Me levaram à Praia Grande. Na época, aqui na Lomba Grande, as mulheres usavam saia comprida e três a quatro saias. Cheguei à praia, as mulheres em fato de banho, meu Deus, aquelas pernas..."
Zulmiro montou uma lanchonete e padaria e ao contrário do irmão, nunca casou. "Sempre gostei de trabalhar mas viver a vida também".
A lanchonete era bem no centro de São Paulo, no bairro da Lapa. "Trabalhava das 8h00 à meia noite mas conheci gente de todo o lado. O Brasil é um país maravilhoso, recebe o português como irmão".
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Em 1993, Zulmiro voltou pela primeira vez a São Miguel. "Olha, fiquei muito feliz de ver tudo modernizado. Aí eu disse, os portugueses evoluíram". Nos últimos tempos de São Paulo, viveu com mais intensidade a rotina de assalto à lanchonete. "Sempre fui calmo, nunca reagi, sempre que apontavam o revolver, eu ficava tremendo de medo por dentro mas negociava com o assaltante e o cliente na loja nem percebia".
Uma vez, o assalto demorou mais tempo porque o ladrão queria o cofre. "Eu expliquei que não tinha. Aí, o pessoal que esperava para comprar o pão reclamou: "Cadê o nosso pão?" Eu tive de explicar: "Gente, acabei de ser assaltado".
Por fim, chegou a ser assaltado 15 vezes num mês. "A gente chamou a televisão e a rádio, pediu ajuda, era demais. Abrandou um pouco mas logo retomou". Há cinco anos, Zulmiro regressou à Lomba da Fazenda. " A princípio, cheguei stressado, agora estou relaxado".
Abre os braços: "Obrigado Brasil por tudo o que me deu mas agora 'tou na minha terra de novo. Aqui descanso em paz, nesse sossego".

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