VIAGEM A PÉ PELAS NOVE ILHAS DOS AÇORES REALIZADA EM 2012 PELO JORNALISTA NUNO FERREIRA (REVISTA EPICUR E REVISTA ONLINE CAFÉ PORTUGAL, autor do livro "PORTUGAL A PÉ", EDIÇÃO VERTIMAG) APOIO VERTIMAG, Pousadas de Juventude dos Açores e SATA Contacto: nunocountry@gmail.com
sábado, 4 de agosto de 2012
MANUELA CARDOSO, CRIADORA DE ALFENIM
Alfenim é um doce feito de açúcar, vinagre e água que na Ilha Terceira é muito associado às Festas do Divino Espirito Santo, uma vez que as pessoas passaram a fazer peças de alfenim para serem doadas como oferendas.
Alfenim vem do árabe “al-fenid” e significa aquilo que é branco, alvo. Segundo Câmara Cascudo, o Alfenim era uma das gulodices orientais, muito popular em Portugal nos fins do século XV e princípios do século XVI. Na Terceira, a doçaria conventual ter-se-á apropriado do Alfenim, aperfeiçoando as figuras. Passou a ser oferta de luxo até mais tarde passar a ser associado às festas do Espírito Santo.
Manuela Cardoso, que vive em Angra do Heroísmo, faz Alfenim e já criou um site de divulgação. Trabalha como auxiliar de educação de manhã, educadora de tarde e à noite faz o alfenim. "O alfenim é como o cagarro, vem em Março, com as festas de Espírito Santo e vai em Outubro, quando a produção cai. No auge do Espírito Santo, eu peço duas semanas de férias e chago a dormir três horas. Chego a recusar encomendas".
Manuela começou a ver a mãe a fazer Alfenim aos nove anos. "A minha mãe é de São Jorge e veio viver para Santo Amaro, Ribeirinha. Aprendeu com uma vizinha e fazia apenas para uso caseiro, durante as Festas do Espírito Santo". O alfenim que fora e ainda é nalguns casos oferta de luxo passou a ser também durante as festas uma forma de as famílias obterem um rendimento familiar extra. "Tem havido muito secretismo. Os vizinhos escondiam dos outros. Há a história de uma senhora que estava a fazer alfenim às escondidas dos vizinhos e a filha viu que a massa estava a estalar e disse à frente de uma vizinha: "Mãe, já estala!" A mãe ouviu aquilo: "Já estala? Toma lá um estalo!"
Manuela Cardoso faz todo o tipo de peças que sirvam de ofertas e pagamentos de promessas no Espírito Santo. "As peças mais tradicionais são o menino, a menina, a perna, o braço, a mão, o pé, a garganta. A pomba, a rosquilha, a cabaça, também têm muita tradição em alfenim". Como estas peças estão relacionadas com as maleitas de cada um já chegaram a pedir a Manuela para criar em alfenim uma orelha, um nariz ou um olho.Manuela faz também outras peças de oferta ao Espírito Santo: Cestos de flores, cestos de frutas, oferecidos como gratidão ou devoção pura.
O sonho de Manuela Cardoso é exportar o Alfenim, divulgá-lo. "Acho que o Alfenim está muito desaproveitado. É uma massa que permite fazer tudo, é uma massa cujo único limite é a imaginação. Mais do que uma tradição, é uma arte. Já fiz estátuas, candelabros, faço peças para casamentos e baptizados. Há peças que me dão muito prazer fazer, como o São João ou a Nossa Senhora".
E qual o segredo do Alfenim? "O segredo está na confecção da massa, com acúcar, água e vinagre. O fundamental é o ponto da massa e a quantidade de vinagre. Há maior ou menor necessidade de vinagre consoante a qualidade do açúcar usado".
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