quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A ILHA DA CHAMARRITA

pico 129 pico 128 Os bailes de chamarrita estão a conhecer um regresso em força e não deixa de ser curiosa que uma discoteca como "O Farol", nas Ribeiras, abra o seu espaço para algo que há uns anos era considerado ultrapassado. Também tive oportunidade de ver jovens no Clube Naval de São Roque do Pico a terminar uma noite de música de dança ao som de chamarritas e a dançá-las com a alegria e o orgulho identitário de quem sabe que aquilo é a sua música. Manuel Canarinho, mestre da rabeca e voz fundamental na chamarrita do Pico, não tem dúvidas do impulso que esta tomou desde que ali foi Tiago Pereira gravar, enfeitiçado, o documentário "Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu". Manuel Francisco Costa, director do Museu do Pico e também cantador e tocador considera a Chamarrita "a grande expressão cultural sobrevivente da ilha": "Mantem-se pura, não foi museulizada. As pessoas continuam a saír de casa para bailar espontaneamente, numa partilha do corpo, do afecto, do prazer". Porquê um baile tão frenético em comparação com os bailes de roda nas outras ilhas? "Penso que tem a ver com a dureza e dimensão telúrica da vida no Pico. A chamarrita começa nos terreiros e nas casas particulares como compensação do sofrimento imposto pelo solo inóspito. Daí esta pulsação", explica Manuel Francisco Costa. A chamarrita, afastada e quase extinta pela aparição das guitarras eléctricas, pela música de dança estrangeira e pela associação, a seguir ao 25 de Abril, ao passado, ressurgiu. "Houve uma espécie de nostalgia, pelo menos nas pessoas da minha idade, uma nostalgia do tempo em que aprendíamos a chamarrita, de um tempo em que fomos felizes".

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