segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

EM CASA DE JOSÉ SERPA

Serpa Flores 150 Flores 152 A Costa do Lajedo, na costa sul da Ilha das Flores, é um daqueles lugares que facilmente confundimos com o paraíso. As arribas recortam entre fios ou mantas de nevoeiro um vale muito verde e idílico em frente ao mar ora manso ora turbulento dos Açores. Foi na Costa do Lajedo que nasceu e viveu até aos 18 anos o tocador e construtor de violas da terra José Agostinho Serpa. Depois de 27 anos na Ilha Terceira, decidiu regressar, para viver da natureza, do que consome (é vegetariano) e da música. “O meu avô era dono da mercearia Serpa, ali mais a cima. Foi lá que nasci. Ele tocava violino. O meu pai tocava bandolim. Ele próprio construiu o instrumento”. Cedo, José Serpa começou a escutar a música tradicional que se fazia na Costa do Lajedo. “Todos os fins de semana havia bailes nas casas dos senhores mais prestáveis, bailes à luz da vela ou de candeeiro alimentado a azeite de baleia”. Os bailes desapareceram no tempo mas a paixão de José Serpa pela música permaneceu. “Pedi uma viola eléctrica emprestada e fiz uma na oficina do meu avô”. Começou a aprender sozinho porque mais ninguém tocava nessa altura na Costa do Lajedo. “Não havia estrada. Ía a pé pela montanha acima e depois procurava apanhar a carreira para Santa Cruz. Na escola, era pior. O nosso transporte para lá era na camioneta de carga que transportava as vacas para o porto. Eramos trinta e tal desta parte da ilha que íamos assim, estudar para Santa Cruz. Eu enjoava com a fumaceira debaixo da lona”. Saíu da Ilha das Flores para frequentar a Escola Militar em Lisboa. “Foi um choque enorme. Imagine o que é sair daqui para Lisboa…Tive a felicidade de ter como superior na escola Manuel Faria, dos “Trovante”. O Manuel Faria ensinou-me muito na guitarra clássica. O Luís Represas passava por lá ao fim de semana e tocávamos juntos”. Como José Serpa não tinha instrumento, Manuel Faria combinou com outros amigos comprarem-lhe uma viola. “Eu tinha trazido a harmónica das ilhas e para o final tocávamos nos salões privados do Casino do Estoril”. Mais tarde, chegou a viver em São Miguel. “Fazia placards publicitários. Até que um dia o avião que seguia das Flores para São Miguel avariou e tive de ficar na Terceira. Em Angra do Heroísmo encontrei um primo afastado que me convidou a ficar lá a trabalhar como técnico de electrónica e electrodomésticos. Fiquei 27 anos…” Na Terceira, além de reparar aparelhos, foi técnico de som. “Foi como técnico de som que conheci muitos músicos do continente, desde o Paulo de Carvalho aos Heróis do Mar”. Foi lá também que conheceu a família Lobão, uma família de construtores de violas. “Acabei por decidir construir o meu primeiro instrumento, um violão de 12 cordas. Depois, construí várias violas”. A partir de determinada altura, José Serpa decidiu inovar: “Para o Dia dos Namorados, decidi construir um instrumento com a forma de dois corações e com um som semelhante à mistura do cavaquinho e do bandolim”. Mais tarde, fez uma viola com formato de peixe e outra em forma de S, o S de Serpa. Das suas criações, expostas na internet na sua página pessoal (http://joseserpa.no.sapo.pt/) a preferida é a “violira”, um misto de viola e lira. serpa 4 serpa 2 serpa 3 José Agostinho Serpa, que já compôs e editou em cd cerca de 50 composições, mudou-se de armas e bagagens há cerca de dois anos para o lugar onde nasceu. Continua a trabalhar em reparações de electrodomésticos mas dedica cada vez mais tempo à construção de violas da terra. No Verão, a altura do ano em que a Ilha das Flores é mais visitada, Serpa toca num trio “Os Amigos da Música” animando grupos turísticos no Inatel de Santa Cruz e na aldeia turística da Cuada, perto da Fajã Grande e do paradisíaco Poço da Lagoinha. serpa 5 serpa 6 serpa 7 “A viola da terra já esteve praticamente votada ao abandono na Ilha das Flores. Hoje existem aí dois ou três tocadores”, explica Serpa, que ainda escreve para o jornal local “O Monchique”. Desde há cerca de dois anos que vive na casa que construiu juntamente com a esposa Luísa, artesã, num recanto mágico da Costa do Lajedo. “Regressei à Ilha das Flores para a meditação, para a paz. Este lugar tem muito mais energia. Produzimos aqui 90 por cento da nossa alimentação, vegetariana e fruto da agricultura biológica”. Flores 150

3 comentários:

  1. Dear José,

    Thanks you so much for introducing us into your beautiful world of building guitars and listening to your lovely songs! We so very much enjoyed our short visit in your home.
    I have been trying to convince my son Caj into getting one of your guitars but he is an honest young man and he said: ' they look gorgeous and the sound is great but I already have 4 guitars and that is enough at this moment.
    I do think I have to come back with my son to visit you José.
    Hope Louise arrived safely and I do hope to visit Isla de Flores again in future.
    With the warmest regards,

    Jac and Helena.

    PS: I tried to see your web page but unfortunately I wasn't able to open it.

    Jac Volbeda
    B&B Bagh Alluin
    21 Baleshare
    Isle of North Uist
    HS6 5HG
    Western Isles
    Scotland
    00 44 1876 580370
    0044 7894321876

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