sábado, 17 de março de 2012

ATÉ AO PARAÍSO ESCONDIDO DA ROCHA DA RELVA

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O primeiro dia é sempre o primeiro dia, imaturo, difícil, empenado, enferrujado. A primeira caminhada ao fim de um longo período sabático custou um bocadinho sobretudo enquanto não largava os prédios e as vias rápidas de Ponta Delgada, a moderna. Antes de partir, ainda vi de relance um rancho de romeiros da Quaresma a saír em pedalada rápida da Matriz. Pelas contas do "Açoriano Oriental" de quinta-feira passada andarão neste momento pelas estradas, canadas e freguesias de São Miguel uns dois mil romeiros dos mais diversos ranchos.
Larguei a cidade por essa tripa suburbana entre os campos que dá pelo nome de Arrifes, cheguei à Covoada e aí sim, depois uns trechos de verde entremeados entre o casario colorido dos Arrifes, achei-me no campo, entre vacas, o mar ao fundo numa perfeição azul de dia (pasme-se) quase sem nuvens. Um trilho convidou-me já na Relva a descer a ladeira do Tio Cardoso abaixo até esse pequeno pedaço de paraíso, adegas, vinhas e figueiras entre muros de lava que é a Rocha da Relva. Dois homens acompanham um burro ladeira acima carregado com vá lá saber-se o quê. Mais tarde, explicam-me que grande parte do que vai e vem da Rocha da Relva é transportado de burro.
Para cima, os músculos das pernas enferrujados, precisei de parar umas poucas de vezes. Foi numa dessas paragens que meti conversa com um local: "O meu emprego na cidade estoirou, então venho aqui todos os dias. Eh home, a Berta Cabral, sabes quem ela é (actual presidente da câmara e candidata a presidente do governo regional pelo PSD) há uns anos disse que construía aí um teleférico...era uma beleza...mas faz bem andar, eu subo e desço todos os dias para cuidar da minha "oficina" e nunca se sabem, né, podem roubar alguma coisa, passa aí muita gente".
Daí a pouco, passa por nós um velho protegido com um boné de Berta Cabral. Já percebi que mesmo que não queira, vou ter as eleições regionais a circular em cartazes, t-shirts e...bonés nos próximos tempos.

4 comentários:

  1. Amigo, 15 graus pra nós um pouco abaixo da linha do equador é frio pacas, como dizemos por aqui. Pelo visto por aí também tem vinhos, nunca tomei desses, hora dessas experimento. Boa caminhada.

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  2. Boa tarde,

    Tenho vindo a acompanhar a preparação desta aventura do Nuno Ferreira, através da comunicação social com orgulho e (tenho que confessar) um pouquinho de inveja... Há vários anos que penso em fazer um destes passeios sem rumo definido e sem pressas, de mochila às costas, pelo menos na minha própria ilha (São Miguel), mas a 'desculpa' da falta de tempo vai sempre levando "a sua a melhor".

    Curiosamente, ontem, a regressar de um acampamento de escuteiros nos Ginetes deparei-me com a caminhada solitária do Nuno à saída da minha própria freguesia (Relva) e decidi vir espreitar o blog para ver como estaria a correr a estadia nos Açores. Mal sabia eu que era o primeiro dia.

    Boa sorte e obrigado pela divulgação dos Açores pelo País, e pelo Mundo. E obrigado pelo incentivo à aventura...

    Cumprimentos,
    João Cordeiro

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