quarta-feira, 12 de setembro de 2012

TOUROS NO NEVOEIRO

ganadaria touros s jorge

NO PICO DA ESPERANÇA

pico da esperança É pouco antes de chegar ao Pico da Esperança. Chama-se, penso eu, Morro Pelado. O nevoeiro transforma o local de homenagem ao acidente aéreo de 99 num lugar tétrico, sombrio. A felicidade de chegar ao ponto mais alto da ilha esvaíu-se-me. Um a um, estão ali os nomes dos passageiros, dos que iam a a bordo. O vento fustiga uma imagem muito só de um Cristo afogado na neblina. Quero ali deixar qualquer coisa mas o quê? Tiro o chapéu, rezo, sigo o meu caminho. Quando olho para trás, já não vejo nada. É como se as placas já não estivessem lá. Um muro branco de nevoeiro apoderou-se do caminho, do mundo à nossa volta. pico 3 pico 2

DA BEIRA AO PICO DA ESPERANÇA EM DIA DE NEVOEIRO

Passei pelo campo de futebol da Beira e imaginei como será jogar ali num dia de céu limpo, com o Pico mesmo à frente. Aquele era dia de bruma e de chuva. À medida que subia em direcção aos sucessivos picos da ilha, a névoa invadia a estrada em revoadas, fustigada pelo vento. Os animais e as pastagens apareciam e desapareciam como fantasmas, engolidos no nevoeiro. Muito poucas viaturas passaram por mim durante aquela peregrinação pelo dorso alcantilado e em bossas da Ilha de São Jorge. Um tractor de vez em quando. Um casal a fechar uma cancela antes de correr para a carrinha de caixa aberta. Lá muito à frente, a placa que indicava o Pico da Esperança e o estradão em terra batida. c de jogos beira estrada beira 2 A caminho do Pico da Esperança, São Jorge nevoeiro pico

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

BEIRA EM DIA DE PROCISSÃO

Cheguei a Beira pelas sete da tarde e fui surpreendido pelas ornamentações, pelas flores no asfalto, pelas mantas e colchas nas janelas e varandas. Convenci-me de que tinha acabado de perder uma procissão. Perguntei a uma senhora: "Ainda não começou e é muito linda. Deixe-se estar aí que vai ver tudo". E foi assim que acabei a assistir a uma procissão com vista para o Pico. Saltaram-me à vista as bandeiras dos Estados Unidos e do Canadá e a presença de muitos emigrantes. Afinal era Agosto. Mas do que eu gostei mais foi da presença do Pico como pano de fundo, a melhor tela do mundo para um ritual daqueles. Ainda pulei para cima de um muro e tentei em vão captar o mosaico andante da procissão com o pico ao fundo mas desisti. beira procissão beira 3 beira 4 beira 5 beira 7 beira 6

SETE FONTES-BEIRA

De novo, houve automobilistas que pararam o carro e me perguntaram se queria boleia. Tudo o que eu queria era chegar a Beira, sem me enganar e usufruir a paz dos campos. Percebi que estava a chegar quando vi o edifício da cooperativa local. farol-beira farol-beira 2 Beira, São Jorge

SETE FONTES

sete fontes E ao fim de horas de caminhada pelos caminhos perdidos e pouco frequentados da Ponta dos Rosais, vim ter a um parque florestal. Pela primeira vez senti-me distante de tudo o que vira até aí na ilha. Famílias e turistas piquenicavam ou passeavam à sombra dos fetos ou à beira de criptomérias, inevitáveis hortênsias e conteiras. Depois de ter passado por uma réplica de um bote baleeiro a precisar de pintura e que me disseram ter sido oferta de um emigrante, acabei junto a uma vedação. Sentei, a mochila em descanso e pensei para comigo: "Foi preciso vir a São Jorge para ver gamos". E por ali fiquei, antes de enfrentar a sombra de alamedas de árvores robustas a caminho da Beira. fontes 3 sete fontes 2 sete fontes 2 sete fontes 1 sete fontes 3

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DA PONTA DOS ROSAIS ÀS SETE FONTES

p dos rosais farol rosais p dos rosais 2

ANTÓNIO ENES

antonio enes Um sábado na Calheta encontrei António Enes em família, de violão na mão, a tocar com o filho e outros familiares e amigos ao fim de um almoço prolongado e bem jorgense: “Prove o nosso queijo. Coma, você não come nada” “Há 50 anos”, conta o tocador jorgense, “não havia nenhum entretenimento nocturno. O meu pai foi o melhor tocador de viola da terra na ilha e os serões eram passados em redor da viola”. Os pais de António Enes compraram o segundo aparelho de rádio do concelho da Calheta. Até aí os vizinhos juntavam-se em redor da viola. “O meu pai tocava, o meu irmão também, eu tocava um bocadinho de violão e apareciam sempre os amigos. Depois veio o rádio mas continuámos sempre atocar”. António Enes toca em sessões de fado amador, em tertúlias, num grupo etnográfico e “a sério”, como gosta de salientar, no grupo de música popular portuguesa “Tributo”: “Gravámos três cd’s e já andámos por muitos lugares. Corremos as ilhas todas, o continente, Cabo Verde, Canárias,Brasil, Estados Unidos, estivemos na Expo de Hannover…” Apesar de ser apontado em toda a ilha como um dos melhores senão o melhor, António Enes é um homem modesto: “Dá-me mais prazer tocar integrado nos grupos. Sou um músico de acompanhamento. Toquei sempre em grupos”. A música popular e nomeadamente a viola da terra parecem ressurgir em força em São Jorge, impulsionadas pelo renascimento dos bailes regionais. “Há dez anos atrás pensei que iria morrer tudo mas tem vindo a renascer tudo com muita força. Houve uma abertura de escolas nas sociedades,tem havido muita formação musical e há um grande renascimento”, Os bailes que antigamente se organizavam pelas matanças do porco regressaram mas agora realizados nas sociedades recreativas."O meu pai era do Topo, uma espécie de ilha dentro da própria ilha. O Topo era uma zona de pobreza. E ele contava que se infiltravam nas festas que as famílias organizavam nas matanças para participar nos bailes”. Os homens do Topo inventaram mesmo uma dança, “Os Pêssegos”, na qual cantavam uma parte na rua esperando que o dono da casa os convidasse a entrar e a ficar no baile. “Hoje, esses bailes de roda estão reactivados, é bom ver que estamos numa fase de recuperação das nossas tradições”.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

NA PONTA DOS ROSAIS

Ponta dos Rosais O melhor da Ponta dos Rosais fica por detrás do farol, semi-escondido pela mata de urze que o cerca. As falésias, instáveis, caem a pique sobre o Oceano. Afastei um emaranhado de ramos e de repente, o mar azul e cristalino estava ali, a bramir por debaixo dos meus pés. Testemunha: O perfil deitado da Graciosa ao longe buraco

O FAROL FANTASMA DA PONTA DOS ROSAIS

Há sempre algo de estranho e fantasmagórico num lugar que já teve vida e jaz abandonado. Este, o da Ponta dos Rosais, já foi o nosso melhor farol, em 1958, com abastecimento de água e electricidade próprios. Os sismos perseguiram-no, primeiro em 1964, quando teve de ser evacuado pela primeira vez e mais tarde em 1980, quando teve de ser largado de vez pelas famílias que ali viviam. Hoje, o local é um hino à desolação. As paredes das antigas divisões estão pejadas de inscrições, grafittis, mensagens mais ou menos obscenas de quem procurou aquele lugar para uma aventura de Verão. farol farol 3 farol 5 farol 4 farol 1

JÁ VEJO O FAROL

rosais 10 O Farol da Ponta dos Rosais apareceu finalmente ao fundo, no final de uma longa recta perdida na extremidade ocidental da Ilha de São Jorge. De vez em quando, um coelho atravessava a estrada de um lado ao outro. Os coelhos são uma constante nas caminhadas em São Jorge, sobretudo em zonas menos habitadas como a Ponta dos Rosais ou as zonas altas do centro da ilha.

A CAMINHO DO FAROL DA PONTA DOS ROSAIS

Apesar de não levar GPS comigo consegui seguir até à Ponta dos Rosais por um caminho a partir da Ponta e regressar pelo trilho que vai dar ao parque das Sete Fontes. À medida que ía caminhando, as ilhas do Pico e do Faial iam como que se aproximando uma da outra, acompanhando-me sempre as passadas. A dado momento, imerso em pastagens pouco frequentadas, encontrei uma família a tratar das vacas. Dois rapazes jogavam à bola e perguntei-lhes o caminho para o Farol da Ponta dos Rosais. Foram os últimos seres humanos que eu vi até já muito perto do farol. Por essa altura, já a Graciosa surgia no horizonte. rosais 5 velas rosais 6 velas rosdais 5 rosais 7 rosais 9

ROSAIS

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DAS VELAS AOS ROSAIS

A Baía de Entre-Os-Morros posta em descanso enquanto largo das Velas em direcção aos Rosais e à ponta mais ocidental da ilha velas rosais 4 velas rosais 3 velas-rosais velas 4 velas rosais 2

FINALMENTE AS VELAS

Esta foi a primeiríssima imagem que tive das Velas, ainda cá em cima. Mal eu sabia que ainda iria ter de contornar pavilhões industriais e dar uma volta sobre a povoação para lá chegar abaixo, às ruas estreitas com casas de outras eras, um barroco ali, um art-deco acolá. Até, claro está, esbarrar com o edifício em forma de vela do auditório e centro cultural e recuar até ao jardim da praça da República onde me sentei a descansar e a pasmar frente ao coreto. urzelina-velas 4 urzelina-velas 5 velas