sábado, 24 de março de 2012

ENSAIO NA FILARMÓNICA

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Não quis deixar os Ginetes sem assistir a um ensaio na Banda Filarmónica Minerva, uma vestuta instituição local. Estava uma noite húmida e fria. Os rostos antigos espalhados pelo corredor que leva à sala de ensaio inspiravam respeito. "Devia vir cá daqui a uma semana, vamos ter nesta sala 50 pessoas, a banda e o coro, tudo junto. Se puder passe por cá", convidou o ensaiador.
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Banda Filarmónica Minerva, ensaio de sexta-feira à noite
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Ginetes à noite

sexta-feira, 23 de março de 2012

"NÃO TROCO AS MINHAS ILHAS POR NADA"

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Em breve, a estação dos CTT dos Ginetes vai fechar. Muitos vão sentir falta do posto dos correios e outros tantos das desgarradas entre a guitarra portuguesa de José Duarte e a viola da terra de Luís Rego, 59 anos, 20 nos correios dos Ginetes. "Eu passava horas a ouvi-los, não havia movimento, eles tocavam", conta um morador.
Luís é de Ponta Delgada, mais propriamente da Fajã de Baixo e há muito que toca em grupos musicais. Teve uma banda em jovem chamada OS REBELDES. Tocavam temas dos Beatles e Rolling Stones. Já tocou viola acústica em grupos folclóricos, já tocou fado e participou recentemente na gravação de um cd prestes a ser lançado do grupo "Vozes do Mar do Norte".
Desde há quatro anos, Luís Rego interessou-se mais pela viola da terra: "É a nossa cultura, é a saudade, é o sentimento açoriano. Quase todas as famílias tinham uma viola da terra. O meu avô tinha uma viola da terra sempre deitada em cima da cama para não apanhar a humidade. Cresci com aquele som".
Luís Rego, prestes a deixar os Ginetes mal a estação feche, vai continuar a dedicar-se à música, à viola da terra e nos Açores. "Não troco as minhas ilhas por nada. Tenho um irmão em Inglaterra, outro em Lisboa, um em Boston e outro na Califórnia. Eu não largo as ilhas".

" A FERRARIA 'TÁ UM BOCADINHO PARA O LUXO"

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Nasceu na Maia, do outro lado da ilha, por isso aqui nos Ginetes lhe chamam o Manuel "da Maia", embora o seu nome de baptismo seja Manuel Pimentel da Costa. "O meu pai veio tomar conta de um prédio de um senhor de Guimarães. Estou aqui há 62 anos".
Manuel é agricultor, um dos últimos numa freguesia rendida à agro-pecuária e ao trabalho em Ponta Delgada, quando há. Mas, sobretudo, é um homem da terra, do mar, lavra, semeia, pesca e caça ou gostava de caçar. Já pescou tanto na Ferraria, onde agora foram remodeladas as termas, que tem lá um pesqueiro com o seu nome: Cova da Maia.
"Já pesquei muito, já ganhei taças, pesco moreia, abrotea, sargo, anchovas, bodeão, peixe viola...Anchovas é aos quilos..."
Ainda as termas da Ferraria não estavam remodeladas como agora, com restaurante e spa e piscina interior e massagens e já Manuel da Maia transportava doentes. "Cheguei a levar lá doentes que não conseguiam andar, iam em cima das albardas dos burros. Lembro-me de um trancador de baleias das Capelas que veo para aí todo curvado e ao fim de 21 banhos foi pelo seu pé". A água era bombeada e levada em barris para a velha casa que lá existia.
Hoje, Manuel não está muito satisfeito com a obra: "Gastaram milhares de euros ali, o nível de água está subindo imenso e o areal entope a tubagem. Tenho medo que fique ali um novo hotel Vista do Rei (referência ao Hotel Monte Palace que está abandonado junto à Lagoa das Sete Cidades).
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Manuel também acha que a Ferraria devia continuar a ser para todos: "Está um bocadinho para o luxo, o senhor está a compreender? Devia ser para todos como antigamente, o meu amigo entra e eu entro e entramos todos como na igreja, não é assim?"
Nos Ginetes, Manuel já foi um pouco de tudo desde dono de um dos cafés- "Eu não parava ali, eu sou homem da terra, como é que me dava ali?"- até presidente da cooperativa e regedor: "Fui o último regedor".
Enquanto foi novo, habituou-se a conhecer os Ginetes como uma freguesia agrícola. "A emigração levou muita gente. Temos mais de mil e tal pessoas dos Ginetes no Brasil, no Canadá e na América". A emigração levou consigo muitos braços para trabalhar o campo.
"E depois, veio a União Europeia, esqueceram-se todos da agricultura. O meu amigo conhece esta quadra? "Em Janeiro sobe ao outeiro, se vires verdejar põe-te a chorar, se vires torrejar põe-te a cantar". Esta freguesia era assim...agora não, a agricultura desapareceu, só há pecuária e quem está sem trabalho prefere o rendimento mínimo".
Manuel "da Maia", um dos últimos que cultiva o campo, vê com desgosto este ciclo vicioso: "O povo viciou-se nos subsídios e no rendimento mínimo. Eu cá sou um homem feliz, não sinto a crise e não preciso do governo para nada. Tenho a reforma e continuo plantando três alqueires de batata, um alqueire e meio de batata doce, feijão, banana..."
Por detrás de muitas das casas dos Ginetes existem quintais: "Dantes eram todos trabalhados. Hoje preferem criar um bezerro para receber o subsídio..."

quinta-feira, 22 de março de 2012

ÁGUAS BALSÂMICAS

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Posso comprovar depois de despir o meu equipamento impermeável e no decorrer de um dia de chuva, que as águas das Termas da Ferraria são boas, balsâmicas, tanto para o corpo como para o espírito. Mas caso tivesse dúvidas da propriedade das águas, não me faltariam testemunhos incentivadores da parte dos locais. Ele é o holandês com a pele em carne viva e que ao fim de duas semanas de Ferraria foi curado, ele é o da criança que já tinha ido a Cuba e se curou na Ferraria...
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O Farol dos Ginetes num dia húmido e de bruma
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A caminho da Ferraria
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A caminho da Ponta da Ferraria

CHUVA E VENTO


A chuva chegou em força juntamente com as fortes rajadas de vento e caçaram-me à entrada dos Ginetes. A mesma chuva que um dia mais tarde haveria de castigar este grupo de romeiros em passagem acelerada em direcção dos Mosteiros e Sete Cidades.
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À entrada dos Ginetes
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Chuva!
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A caminho dos Ginetes

terça-feira, 20 de março de 2012

O GUARDADOR DA MEMÓRIA DOS ARRIFES

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José António Carvalho, como poderão ler em maior pormenor na crónica publicada na secção OS PORTUGUESES do CAFÉ PORTUGAL foi e é muito mais que um barbeiro, é um autêntico guardador de memórias que fotografou, criou peças únicas de artesanato, preservou peças antigas e fez quadras à medida da imaginação.

Logo no primeiro dia, à passagem pelos Arrifes, deparei com a Barbearia Museu Benfica mas estava fechada. Voltei mais tarde para conversar com o grande contador de histórias José António de Carvalho, filmar esta pequena peça e escrever a crónica que publiquei na secção OS PORTUGUESES do CAFÉ PORTUGAL.

domingo, 18 de março de 2012

O HOMEM DOS GELADOS CHEGA À CANDELÁRIA

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Na aproximação à Candelária, comecei a ouvir um som festivo, quase circense, a insinura-se e a convidar-me a acelerar o passo. Foi quando avistei ao fundo o que parecia uma roulotte mas depois a suposta roulotte moveu-se e desapareceu por uma esquina. Percebi que seria venda de gelados quando vi uma miúda e duas adultas a comer gelados junto ao portão batido pelo surpreendente sol precoce e pouco habitual aqui. Acabei por dar com a carrinha dos gelados no final de uma ladeira onde o muro separa a Candelária dos prados, das canas e das arribas do mar.
"Já vimos de Ponta Delgada", explicou-me o vendedor, "vamos pelas freguesias até aos Mosteiros! Não quer um gelado?"
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Dali vão a vender gelados até aos Mosteiros na ponta oeste da Ilha de São Miguel e depois voltam à base em Ponta Delgada.
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Candelária

"O IRMÃO QUER ALMOÇAR COM A GENTE?"

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Por estes dias, nas estradas da Ilha de São Miguel, andam cerca de dois mil romeiros da Quaresma. Estava a beber água e a olhar para o mapa num café nas Feteiras quando ouvi o cântico familiar (já fui de romeiro duas vezes). Saí para a rua a tempo de os ver passar, em passo estugado, que hoje ainda íam pernoitar nos Ginetes. Encontrei-os mais abaixo, a almoçar na Casa do Espírito Santo. Mal expliquei que sou jornalista e já fui de romeiro, o mestre sorriu e com a maior das naturalidades perguntou: "O irmão que almoçar com a gente?
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Romeiros de Vila Franca do Campo a passar hoje nas Feteiras
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Feteiras
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Feteiras
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Feteiras
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Miradouro antes das Feteiras
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Relva-Feteiras
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Relva-Feteiras
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A caminho das Feteiras

sábado, 17 de março de 2012

ATÉ AO PARAÍSO ESCONDIDO DA ROCHA DA RELVA

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O primeiro dia é sempre o primeiro dia, imaturo, difícil, empenado, enferrujado. A primeira caminhada ao fim de um longo período sabático custou um bocadinho sobretudo enquanto não largava os prédios e as vias rápidas de Ponta Delgada, a moderna. Antes de partir, ainda vi de relance um rancho de romeiros da Quaresma a saír em pedalada rápida da Matriz. Pelas contas do "Açoriano Oriental" de quinta-feira passada andarão neste momento pelas estradas, canadas e freguesias de São Miguel uns dois mil romeiros dos mais diversos ranchos.
Larguei a cidade por essa tripa suburbana entre os campos que dá pelo nome de Arrifes, cheguei à Covoada e aí sim, depois uns trechos de verde entremeados entre o casario colorido dos Arrifes, achei-me no campo, entre vacas, o mar ao fundo numa perfeição azul de dia (pasme-se) quase sem nuvens. Um trilho convidou-me já na Relva a descer a ladeira do Tio Cardoso abaixo até esse pequeno pedaço de paraíso, adegas, vinhas e figueiras entre muros de lava que é a Rocha da Relva. Dois homens acompanham um burro ladeira acima carregado com vá lá saber-se o quê. Mais tarde, explicam-me que grande parte do que vai e vem da Rocha da Relva é transportado de burro.
Para cima, os músculos das pernas enferrujados, precisei de parar umas poucas de vezes. Foi numa dessas paragens que meti conversa com um local: "O meu emprego na cidade estoirou, então venho aqui todos os dias. Eh home, a Berta Cabral, sabes quem ela é (actual presidente da câmara e candidata a presidente do governo regional pelo PSD) há uns anos disse que construía aí um teleférico...era uma beleza...mas faz bem andar, eu subo e desço todos os dias para cuidar da minha "oficina" e nunca se sabem, né, podem roubar alguma coisa, passa aí muita gente".
Daí a pouco, passa por nós um velho protegido com um boné de Berta Cabral. Já percebi que mesmo que não queira, vou ter as eleições regionais a circular em cartazes, t-shirts e...bonés nos próximos tempos.
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Junto ao Miradouro da Relva
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Quem és tu, amigo?
Junto ao miradouro da Vigia, 17 de Março de 2012
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Cavalo solitário, Rocha da Relva
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Rocha da Relva
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Rocha da Relva em dia de sol, 17 de Março de 2012
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A caminho da Rocha da Relva
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Covoada
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Arrifes
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Arrifes, 17 de Março de 2012
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Ponta Delgada, 17 de Março de 2012

A CAMINHO DOS ARRIFES

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Hoje vou finalmente começar a caminhar em direcção a oeste, via Arrifes e Relva. Como sempre o primeiro dia é um dia de adaptação. Ontem passei o dia em Ponta Delgada a dar entrevistas, uma logo de manhã na RTP Açores, uma na RDP, outra na TSF, mais duas para a RTP Açores no âmbito da apresentação do livro na Bertrand. Os media locais têm sido incansáveis e espero retribuir a atenção e o carinho açorianos com fotos e texto logo que ande por aí.
Abraço a todos
Nuno Ferreira

sexta-feira, 16 de março de 2012

PONTA DELGADA 15 GRAUS E NEM UM PINGO DE CHUVA

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Acabado de chegar a Ponta Delgada, já a sonhar com fajãs e lagoas e prados verdejantes mas ainda "encurralado" à urbe. Aproveitei para um passeio higiénico na marginal depois de alguém me querer impingir duas fotos do Senhor Santo Cristo por cinco euros junto ao perfil iluminado a amarelo da Matriz.

quinta-feira, 15 de março de 2012

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Mais adiante, num shopping, comprei leituras sobre a História dos Açores e vi um barmen micaelense e sportinguista a dar pulos de alegria em frente ao ecrã da televisão: "É mê tem que controlar essa bola!" Que saudades que eu tinha do sotaque micalense.
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Amanhã vou estar de manhã no programa "Bom Dia Açores" e à tarde, às 18h30, na Bertrand, a apresentar o livro "Portugal a Pé". Sábado, ala para o campo, que não vim aqui para respirar os vapores dos escapes dos automóveis. São iguais em todo o lado.

segunda-feira, 12 de março de 2012

APRESENTAÇÃO DO LIVRO PORTUGAL A PÉ EM PONTA DELGADA

Dia 16 de Março, pelas 18h30, o livro PORTUGAL A PÉ será apresentado na livraria Bertrand em Ponta Delgada.
No dia seguinte, nas Portas da Cidade, começa o projecto Açores a pé com a travessia da primeira ilha, São Miguel.
Abraço a todos