VIAGEM A PÉ PELAS NOVE ILHAS DOS AÇORES REALIZADA EM 2012 PELO JORNALISTA NUNO FERREIRA (REVISTA EPICUR E REVISTA ONLINE CAFÉ PORTUGAL, autor do livro "PORTUGAL A PÉ", EDIÇÃO VERTIMAG) APOIO VERTIMAG, Pousadas de Juventude dos Açores e SATA Contacto: nunocountry@gmail.com
domingo, 11 de novembro de 2012
EM CASA DE MANUEL CANARINHO, MESTRE DA CHAMARRITA, NAS PONTAS NEGRAS
"Entre", diz Manuel Canarinho, quando me ouve aproximar da porta aberta. Está na sala a jantar com a esposa. Dele diz o insuspeito e conhecedor Manuel Francisco Costa, director do Museu do Pico: "O Manuel é o herdeiro dos cantadores extraordinários que a ilha tinha. Além de grande executante (rabeca, viola da terra, bandolim, violão) é o verdadeiro cantador da chamarrita. A voz dele é metálica, aguda, seca, gritada, quase marroquina".
É esse exímio cantador e tocador de chamarrita do Pico que eu encontro agora na sua casa das Pontas Negras, um homem criado entre o campo e a música tradicional. "O meu pai tocava, a minha mãe também, enfim, isto da música já vem dos meus antepassados." Manuel é de um tempo em que não havia nem rádio nem televisão. "O primeiro rádio na Ponta Negra apareceu quando eu tinha 10 anos. Eu só ouvia a música tocada pelos meus pais. O meu pai tinha um pequeno acordeão. Era um som alegre e era convidado para tocar no carnaval. Já a minha mãe tocava guitarra portuguesa".
De todos os intrumentos que foi aprendendo a tocar, Manuel Canarinho afeiçou-se pela rabeca: Aprendi a tocar o violino sózinho, de ouvir nos bailes de chamarrita. Adoro violino porque suaviza a música, alisa-a, é como se fosse a lixa..."
A introdução de bandas, conjuntos, relegou os bailes de dança e a chamarrita quase para a extinção. " A chamarrita era uma coisa dos antigos", afirma Manuel Canarinho que
aponta o documentário sobre a mesma realizado por Tiago Pereira como uma das razões para o ressurgimento actual: "Fazia-se um ou dois bailes por ano de chamarritas aqui na zona das Lajes do Pico e agora é quase todos os fins de semana".
A chamarrita já é dançada em bares e discotecas da ilha. Apesar de tudo, Manuel Canarinho gostava que os jovens do Pico ganhassem a mesma paixão e orgulho que viu no Canadá junto dos jovens emigrantes. "Eu acho que tem a ver com a saudade, eles cantam e tocam com uma alegria e presença em palco muito boa. E eu acho também que daqui a 50 a 100 anos será nas nossas comunidades que as tradições se vão manter. É a saudade..."
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