VIAGEM A PÉ PELAS NOVE ILHAS DOS AÇORES REALIZADA EM 2012 PELO JORNALISTA NUNO FERREIRA (REVISTA EPICUR E REVISTA ONLINE CAFÉ PORTUGAL, autor do livro "PORTUGAL A PÉ", EDIÇÃO VERTIMAG) APOIO VERTIMAG, Pousadas de Juventude dos Açores e SATA Contacto: nunocountry@gmail.com
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
EM CASA DO TOCADOR E CONSTRUTOR DE VIOLAS DA TERRA ELDER EIRÓ
Foi na sua casa do Carapacho, com uma vista magnífica sobre o mar da Graciosa que encontrei o construtor de violas e tocador de viola da terra Elder Eiró. Fui lá graças a outro tocador mais jovem, António Reis, que aprendeu a tocar com Eiró. No dia em que lá passámos Eiró estava à espera de três jovens de Guadalupe a quem ensina gratuitamente viola da terra para que a arte não se perca. Na Graciosa, há necessidade de que existam mais jovens a envolver-se com a viola característica dos Açores. A emigração e migração para fora da ilha esvazia o lote de potenciais tocadores. Curiosamente, dos três jovens que apareceram naquele dia em casa de Elder, uma rapariga ia em breve partir para estudar fora da Graciosa.
O próprio Elder vive parte do seu tempo no Carapacho e outro tanto na Califórnia. Foi nos Estados Unidos, para onde emigrou em 1965, que começou a construir violas da terra. "Até aos 20 anos trabalhei a terra. Depois trabalhei de carpinteiro aqui na Graciosa e depois emigrei em 65. Estive na costa leste, no Massachussets como operador de máquina de fazer caixas de papelão. Nos tempos livres aprendi a construir violas".
O pai era tocador e mandava nos bailes de roda. Foi ele que insistiu para Eiró começar a construir. "Comecei por construir um violão velho e experimentei colocar-lhe os corações como na viola da terra. Mas a minha pequena não gostou. Depois, fiz a primeira viola da terra".
Em 1976, mudou de ares. Da costa leste foi viver para a Califórnia. "Trabalhei numa fábrica de waffles, depois fui novamente para uma fábrica de papelão e uma vez numa filarmónica de lá conheci um indivíduo que me arranjou trabalho na Lockeed, numa fábrica de armamento. Andei lá 23 anos a limpar os escritórios, vim com uma reforma linda".
Comprou três livros sobre a viola e foi construindo para os emigrantes. "Cada viola leva o nome do dono, onde eles estão e quanto custou", diz a sorrir. Também já construiu nove bandolins, dois violões, três guitarras de fado e consertou muita viola. "Mas já não conserto. O conserto dá muito trabalho e não compensa. Mais vale comprarem uma nova".
Existem vários casos de pessoas que se dirigem a Eiró para consertar violas da terra que pertenciam aos antepassados. "São violas que pertenciam à família e têm muito afecto por elas. Houve um que me disse: Esta viola, senhor, é do meu avô. Custe o que ela custar, pago o que for preciso para a consertar. Tinha conchas inscrustadas..."
Uma vez, apareceu-lhe uma encomenda de conserto do Hawai. "Eu disse ê senhor eu conserto a viola mas tu assinas uma carta em como és responsável pelo transporte para o Hawai, eu cá não vou ser responsável pelo transporte...Ele concordou, assinou o termo de responsabilidade e lá chegou a viola da terra ao Hawai. Era do avô dele. Já mandou o endereço do Hawai para eu ir lá uma semana a casa dele mas nunca fui..."
Na Califórnia, aos fins de semana, Eiró organizava bailes de roda com pessoal quase todo da Graciosa, tocando e cantando as modas da ilha. "Aqui é preciso não deixar morrer a tradição. Há pouco tempo fizemos um baile aqui no Carapacho e eu esino estes jovens para que isto não morra. Quando eu morrer, vai o António Reis (aponta para o António) ensinar".
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