VIAGEM A PÉ PELAS NOVE ILHAS DOS AÇORES REALIZADA EM 2012 PELO JORNALISTA NUNO FERREIRA (REVISTA EPICUR E REVISTA ONLINE CAFÉ PORTUGAL, autor do livro "PORTUGAL A PÉ", EDIÇÃO VERTIMAG) APOIO VERTIMAG, Pousadas de Juventude dos Açores e SATA Contacto: nunocountry@gmail.com
sábado, 29 de dezembro de 2012
AUGUSTO MACIEL, O HOMEM QUE TOCA BANDOLIM NA MISSA
Encontrei Augusto Maciel na Ribeira do Cabo, extremidade sul da freguesia de Capelo. Augusto, 85 anos, só deixou a Ribeira do Cabo, ali a poucos quilómetros do Vulcão dos Capelinhos, um ano e porque foi obrigado. “Tivemos de ir para Castelo Branco mas logo que pude voltei. Eu estava danado para vir para cima. Ouvia aquilo a fazer pum, pum mas não me importava”.
O senhor Augusto criou oito filhos na Ribeira do Cabo, hoje espalhados pela Ilha do Faial, pela costa leste e costa oeste dos Estados Unidos. “E todos aprenderam a tocar bandolim”, diz a sorrir o homem que aos 85 anos continua a animar as missas de fim de semana das Igrejas de Capelo e Norte Pequeno.
O primeiro instrumento de Augusto Maciel não foi o bandolim. “O meu pai tocava viola da terra e eu tanto chateei o meu pai que ele mandou fazer uma viola a um senhor que vivia no Canto do Capelo. O meu pai levou-lhe um pau de castanho que tinha encontrado no Varadouro e foi com essa madeira que a viola foi feita”.
Augusto escutava as chamarritas à noite enquanto se descascava o milho, depois chegava a casa e começava a tocar com o pai. “Tinha a viola em cima da cama. Chegava de trabalhar no campo, pegava nela e começava a tocar como via nas chamarritas e como vai o meu pai tocar. Dava a pancadinha na viola tal como via fazer o meu pai”.
Naquele tempo não havia rádio. Trabalhava-se muito na terra e a distracção ao serão era a viola da terra. “Sachavamos milho, favas, batata, favas, feijão, matávamos dois porcos todos os anos. Trabalhavamos muito mas nunca nos faltou comida”.
Da viola Augusto passou para o violão e mais tarde para o bandolim. “Ensinei os meus 8 filhos a tocar bandolim e quem aparecesse. Havia muita gente aqui antes da emigração para a América. Eu fazia ranchos com a minha família e amigos”.
Quem quisesse aprender a tocar, bastava aparecer na cozinha da casa de Augusto. “Eu não tinha coração de não deixar os outros entrarem. Tinhamos o forno a secar o milho e todos a aprender bandola e bandolim. Até fomos à Terceira com esse rancho que eu organizei”.
Mais tarde, Augusto, sempre entusiasta da música tradicional na zona do Capelo, criou uma tuna que chegou a ir à famosa festa da “Semana do Mar” na Horta. “Entretanto, os meus filhos foram para a América e outros foram para fora da freguesia. Já não os consigo juntar mas ainda gostava de fazer uma brincadeira com filhos, netos e sobrinhos”.
Sempre que pode, Augusto Maciel toca o bandolim na missa e está presente nas festas religiosas da freguesia do Capelo. Tem saudades, no entanto, do tempo em que se juntavam ao fim do dia no Império da Ribeira do Cabo. “Emigrou tudo…”
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